sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

[Opinião Livros] Quem Quer Ser Bilionário, de Vikas Swarup


Quem Quer Ser Bilionário
Vikas Swarup


Editora: Edições ASA
N.º de páginas: 295
Edição/Reimpressão: 2006

Sinopse: Por que está Ram, um pobre empregado de mesa de Bombaim, na prisão?
a) Esmurrou um cliente
b) Bebeu demasiado whisky
c) Roubou dinheiro da caixa
d) É o vencedor do maior prémio de sempre de um concurso televisivo
A resposta certa é a alínea d).
Ram foi preso por responder correctamente às doze perguntas do concurso televisivo Quem Quer Ser Bilionário?.
Porque um pobre órfão que nunca leu um jornal ou foi à escola não pode saber qual é o mais pequeno planeta do sistema solar ou o título das peças de Shakespeare. A não ser que tenha feito batota.
Mas a verdade é que foi a própria vida a fornecer-lhe as respostas certas às dozes perguntas cruciais. Desde o dia em que foi descoberto num caixote do lixo que Ram revela instintos de sobrevivência infalíveis e aparatosamente criativos. Espantando uma audiência de milhões, serve-se dos seus conhecimentos de rua para arranjar respostas não só para o concurso televisivo mas também para a própria vida.
Na história do jovem Ram concentra-se toda a comédia, a tragédia, a alegria e a amargura da Índia moderna.

Opinião: Este é com certeza um dos meus livros preferidos e foi a minha escolha para finalizar as leituras de 2016. Fiquei surpresa, mas feliz, quando peguei no livro e vi como ele já está com aquele aspecto velhinho, com as páginas amareladas e algumas marcas de uso. Não maltratado, mas claramente amado, porque já foi lido tantas vezes que já tem esse uso marcado nas páginas.
Este livro é algo absolutamente excepcional. Só uma mente extremamente criativa poderia usar um concurso como o conhecido "Quem Quer Ser Milionário" como mote para expor as condições de vida e o sofrimento de tantas pessoas que moram na Índia. Mas foi isso que Vikas Swarup fez e assim nos contou a história de vida de Ram, cuja aprendizagem ao longo da sua vida lhe permitiu adquirir os conhecimentos suficientes para ganhar o maior prémio de sempre no concurso. Genial, não é? Porque muitas vezes não é precisamos ter QI elevado, ter licenciaturas, mestrados e doutoramentos ou ter feito uma descoberta super importante para a Humanidade para sermos pessoas sábias e Ram, ao longo da sua vida de desenrasque, tornou-se numa pessoa com imensos conhecimentos sem mesmo ele perceber isso.
O livro começa logo a chocar pelo tratamento dado a Ram quando é preso. Afinal ele é só um empregado que nunca foi à escola, como pode ganhar um prémio num concurso de cultura? É escumalha e não merece ser tratado como pessoa, e é isso que lhe acontece. Mas com o desenrolar da história percebemos que a vida de Ram está cheia de episódios comoventes e chocantes. Desde maus tratos a mulheres a prostituição, pedofilia, exploração infantil (e que exploração!) ou homossexualidade, vários são os temas abordados ao longo do livro, em capítulos bem elaborados que normalmente correspondem à resposta a uma pergunta. Assim, mesmo que os temas sejam imensos, é impossível que tudo se torne uma enorme confusão. E acreditem, há capítulos aos quais simplesmente não consegui ficar indiferente, por me tocarem de forma mais especial. Apesar de ser ficção, sei que é baseado em coisas que realmente acontecem, o que nos faz questionar sobre como é possível coisas destas acontecerem mas, sobretudo, nos fazem agradecer pela nossa vida da qual nos queixamos tanto.
Ram é obviamente o personagem principal da história e sobre ele tenho a dizer que, se ele fosse real, seria a pessoa mais inocente do mundo. É óptimo (e acho que irreal) ver que uma pessoa que sofreu tanto ainda continua com o seu lado de bonzinho, que quer ajudar toda a gente, sem guardar mágoas para com o mundo, mas convenhamos que a vida dele seria bem mais fácil se ele não fosse tão inocente. Ele confia nas pessoas, não percebe quando está a ser trapaceado, e quando dá por ela já se tramou. Mas tudo bem, acho que para contar uma história extrema como esta também era preciso um personagem sentimental que nos fizesse sentir carinho por ela. Ninguém se iria comover com um qualquer mauzão.
Este vai ser sempre um dos meus livros preferidos. Foi um dos primeiros a chegar à minha estante, há quase 10 anos, e já o li um sem fim de vezes. É daqueles livros que não me importo de emprestar porque fico orgulhosa quando as pessoas o querem ler. Não será, com certeza, a última vez que o leio.


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