segunda-feira, 29 de agosto de 2016

[Opinião Livros] A Terapeuta, de Gaspar Hernàndez



Editora: Marcador
N.º de páginas: 232
Edição/Reimpressão: 2016

Sinopse: Hèctor Amat, um ator famoso que sofre de ataques de ansiedade, vê-se envolvido num terrível crime. Sem saber como, nem porquê, aparece num parque de estacionamento, junto de uma mulher assassinada. Por mais que se esforce para reconstituir os seus passos, não consegue lembrar-se do que aconteceu.
O tempo e a investigação não jogam a seu favor, por isso, Hèctor decide pedir ajuda como derradeiro recurso para recuperar a memória. Visita então o consultório da psicóloga Eugènia Llort, a terapeuta que o atendeu depois do crime. Esta relação, num primeiro momento profissional, vai-se convertendo num relacionamento de dependência, que atingirá limites nada usuais. Para que Hèctor possa representar, a psicóloga vai todas as noites ao teatro onde ele interpreta Dick Diver, o protagonista de "Terna é a Noite". Mas, tal como a sua personagem, um psicólogo que se apaixona por uma paciente, também ele acaba por se apaixonar perdidamente pela terapeuta.

Opinião: Este foi um livro que me despertou imediatamente o interesse quando soube que ia sair mas que, após a leitura de algumas críticas, viu esse interesse diminuir por estar tão mal cotado no Goodreads. No entanto, e como expectativas altas têm tendência para estragar tudo, acho sinceramente que fiz uma boa opção ao ir ler essas críticas.
Gaspar Hernàndez apresenta-nos um livro completamente diferente daquilo que estou habituada a ler. A premissa é bastante simples, um actor vê-se envolvido numa situação assassinato e consequentemente perde a memória. Após isso, passa a fazer terapia para perceber o que aconteceu naquela noite e até que ponto ele é culpado. Mas, ao contrário do que eu esperava, este livro não tem nada a ver com um policial ou um thriller. É absolutamente psicológico, tem como única intenção entrar na mente das personagens e deslindar quais as suas motivações e receios. Por isso mesmo, e essa foi a principal crítica que li, este livro não possui exactamente uma trama, não tem uma história com princípio, meio e fim. É mais um entranhar na mente dos personagens, o que não deixa de ser interessante, quando nos predispomos a tal.
Assim, conhecemos Héctor, um actor que mesmo sendo considerado um dos melhores da sua geração, acho que tudo à sua volta é um mal-entendido. É um personagem com a auto-estima bem lá em baixo, mas extremamente interessante. Na realidade, saber em que circunstâncias ele se envolveu no homicídio não é tão importante como acompanhar o desenvolvimento psicológico deste personagem, que tem imenso pano para mangas. E depois existe Eugènia, a psicóloga que logo desde início nos deixa com a pulga atrás de orelha por não parecer de todo uma psicóloga normal. Também ela é alvo de todo um escrutinar por parte do leitor, fazendo assim com que conheçamos o seu passado até tirarmos as nossas próprias conclusões sobre que tipo de pessoa é ela. E, mais uma vez, e longe do que eu achava, isto não é um romance entre os dois, ou alguma espécie de relação abusadora por os sentimentos não serem correspondidos. O livro está bem trabalhado ao ponto de passar completamente ao lado disso e focar em coisas mais importantes.
A leitura do livro é extremamente fluída e Gaspar tem uma escrita muito característica, dotada de algumas repetições que nos permite focar nos detalhes mais importantes. Não foi daqueles livros que me obrigou a ler sofregamente, mas escolhi-o para ler numa tarde enquanto apanhava sol e a leitura acabou por me decorrer com uma velocidade considerável. No final das contas, a minha opinião acabou por ser bem mais positiva do que aquelas que li, talvez graças ao facto de as expectativas estarem em baixo. Eu gostei, achei interessante e diferente. Para uma leitura para fugir um pouco daquilo que se costuma ler, é com certeza uma boa opção.

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