domingo, 28 de agosto de 2016

[Opinião Livros] Guerra Total - de Estalinegrado a Berlim, de Michael Jones



Editora: Bizâncio
N.º de páginas: 352
Edição/Reimpressão: 2015

Sinopse: Em Fevereiro de 1943 a maré da guerra mudou quando os alemães se renderam em Estalinegrado. Em Maio de 1945 os soldados soviéticos tinham atravessado a Europa de Leste e atacaram Berlim para pôr fim ao regime de Hitler."Guerra Total" é uma história poderosa sobre uma das fases mais cruciais da Segunda Guerra Mundial. Michael Jones recorre a relatos sinceros de testemunhas presenciais, a documentos pessoais tanto de fontes alemãs como russas, e traz-nos a história humana por detrás da libertação da Europa.

Opinião: Michael Jones já me tinha surpreendido anteriormente com o seu livro "O Cerco de Leninegrado", no qual contou detalhadamente o cerco que durante a Segunda Guerra Mundial matou milhares de pessoas na Rússia. Neste seu mais recente livro o autor foca-se, sobretudo, nas tropas que lutaram para libertar a população do poder de Hitler, nas suas vivências e, acima de tudo, nos seus traumas. Quando peguei no livro, já sabia que seriam páginas difíceis de digerir.
Livros sobre a Segunda Guerra Mundial sempre me chamaram a atenção, por ser um período tão negro para a história da Humanidade. A maioria dos livros que li foram, no entanto, histórias que se passavam nesse período, e não exactamente um documentário, como este livro. Por isso mesmo, esta é uma leitura bastante pesada e pouco fluída, na medida que muitos dos factos apresentados não interessam tanto e eu acabei por simplesmente não os absorver, ansiosa por chegar às partes que me interessavam. No entanto, e ao contrário daquilo que eu imaginava que aconteceria, consegui ler a um ritmo consideravelmente elevado, mesmo que algumas partes fossem mais difíceis de ultrapassar. 
O autor não é um contador de histórias. Ele escreve os factos, de forma crua, e não importa se isso vai chocar. Na realidade, é mesmo para chocar, para percebermos o quão horrível o ser humano consegue ser. Os testemunhos, os números, os factos, todos são apresentados sem ponta de piedade. Querem uma leitura que vos vai dar aquele aperto no coração, que vos vai fazer sentir pequenos e horríveis, mesmo que nada tenham a ver com o assunto? Sim, este é o livro perfeito para isso. 

"Numa cabana, a um canto de um jardim, deparámo-nos com um velho que tinha sido enforcado. Ao lado, também enforcados, duas mulheres jovens e três crianças - a mais nova teria uns três anos. Um homem jovem estava caído no chão ao lado deles, com uma corda partida ainda em volta do pescoço."

Os livros deste autor são provavelmente os únicos em que selecciono citações, porque simplesmente fico absorta com as coisas que leio. Claro que eu tenho o mínimo conhecimento sobre o que foi o poder nazi e as atrocidades que eles cometeram, mas ver tudo detalhado deixa-me completamente de queixo caído. E, não chegando todo o horror que a História contém, existe ainda algo que me deixou ainda mais abismada: ao contrário do que imaginava, muitas, muitas mulheres mesmo lutaram pelas forças soviéticas, ocupando cargos importantes e desempenhando papéis de destaque. A descrição daquilo que acontecia a estas mulheres quando eram capturadas fez-me parar a leitura durante uns instantes para recuperar. Acreditem, não é qualquer livro que consegue fazer-me isto.

"Numa delas encontrámos umas caixas de arrumação (...) cheias de dentes de ouro. Na seguinte havia caixas cheias de cabelo de mulher. E em seguida entrámos numa outra sala, cheia de artigos manufacturados - malas de senhora, abajures, carteiras... A nossa guia disse-nos «São todos feitos de pele humana.»


Para quem gosta de ler sobre Auschwitz, temos aqui também um excelente relato, bastante detalhado, sobre a entrada das tropas nos campos, a libertação dos mesmos e os horrores que os soldados viram. Pessoalmente, de entre tanta coisa abismal que li, esta foi com certeza a que me chocou mais. Quando cheguei a esta parte simplesmente não conseguia parar de ler.
A opinião já vai mais longa que o costume, mas este livro realmente merece-a. Para quem se interessa pela Segunda Guerra Mundial esta é uma leitura obrigatória e que em muito vai enriquecer a nível de conhecimento. Óbvio que é uma leitura direccionada para um público que se interessa pelo tema e portanto jamais o aconselharia a outro tipo de público. Mas para quem, como eu, gosta sempre de saber mais, aconselho vivamente a leitura.

E eu não costumo fazer isto, mas desta vez sinto-me obrigada a fazê-lo. Enquanto lia e me embrenhava na História lembrei-me desta música, interpretada brilhantemente por Jamala, que se refere justamente às invasões hitlerianas e à luta por parte das forças soviéticas para libertar o país. "1944" foi o ano em que finalmente conseguiram fazê-lo.

"Quando os estranhos estavam a chegar
Chegaram a tua casa
Mataram toda a gente e disseram
«Nós não somos culpados»"


Vale a pena ouvir!

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